terça-feira, maio 3

Portagem à entrada de Lisboa divide especialistas

JN, 2006-05-01


A introdução de uma portagem à entrada dos veículos em Lisboa divide as opiniões de especialistas em transportes e urbanismo e de ambientalistas: para uns, esta não é uma medida prioritária, enquanto outros acreditam ser «inevitável».

Em Estocolmo, a aplicação de uma portagem electrónica, desenvolvida pela empresa de material informático IBM, causou no primeiro mês de funcionamento do sistema uma redução de cem mil viaturas, um quarto do total de veículos a circular nas zonas com mais tráfego da capital sueca.

A medida resultou ainda num aumento de 40.000 passageiros diários dos transportes públicos e uma «redução significativa do congestionamento de tráfego nas horas de ponta».

«Lisboa, à semelhança de outras grandes cidades, sofre de congestionamento rodoviário. A escolha da periferia como local privilegiado para se viver, depois de a capital ter perdido 300 mil habitantes nos últimos 20 anos, implica um aumento do volume de tráfego, já que a maioria dos empregos está na cidade», um crescimento que não foi acompanhado pelo sistema de transportes públicos, descreveu à Lusa Estela Viegas, da IBM Portugal.

A possibilidade de instalar um sistema semelhante em Lisboa divide as opiniões de responsáveis da área dos transportes e do ambiente e de movimentos de cidadãos.

Para o especialista em urbanismo e docente no Instituto Superior Técnico (IST) Fernando Nunes da Silva, as portagens seriam «facilmente aplicáveis» na cidade, nomeadamente na área entre a Baixa e o Campo Pequeno, abrangendo as Avenidas Novas, a «zona mais congestionada e que levanta mais problemas à gestão da mobilidade».

«Não se consegue diminuir o transporte individual sem uma forte \'penalização\' à entrada que introduza uma racionalidade na sua utilização», fazendo o condutor pensar se «vale a pena» levar o carro para determinada zona, quando sabe que terá de pagar essa entrada.

Na opinião de Nunes da Silva, a adopção desta medida não será possível, no entanto, sem «uma política para diminuir a utilização abusiva do transporte individual», como uma maior restrição ao estacionamento nesta zona da cidade.

O especialista defende ainda uma nova programação da oferta da Carris, «mais complementar ao Metro», a construção de parques dissuasores em «zonas disponíveis na cidade e junto a estações de metropolitano ou áreas bem servidas por autocarros e comboios» e a alteração dos transportes a nível da Área Metropolitana de Lisboa.

Carlos Moura, do núcleo de Lisboa da associação ambientalista Quercus, acredita que a utilização de uma portagem electrónica na capital é «uma medida inevitável, que terá mesmo de funcionar dentro de anos», considerando que permitiria «reduzir o trânsito dentro da cidade e diminuir a poluição sonora e do ar».

Para o ambientalista, uma medida deste tipo terá de ser complementada com o reforço dos transportes públicos.

Também Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), disse à Lusa ser «favorável» à criação de «limites à entrada na cidade».

O responsável frisou, no entanto, que as medidas para controlar o trânsito não passam apenas pela instalação de portagens nem entradas condicionadas, mas também pela «necessidade de repensar as cidades».

«É preciso coragem política para definir uma política de mobilidade. Os técnicos devem cumprir o que o político quer, mas em Lisboa tem acontecido sempre o contrário», criticou.

Já o movimento de cidadãos Fórum Cidadania Lisboa mostra-se céptica em relação a esta iniciativa.

«Enquanto medida isolada, seria apenas mais um meio para lançar mão a um imposto indirecto e, como tal, mais uma fonte de receita para o Estado», considerou, em declarações à Lusa, Paulo Ferrero.

Na opinião do representante do movimento de lisboetas, os transportes colectivos «são maus, não são de fiar, não têm interfaces eficazes, nem há ligações rápidas de metro de superfície a quatro ou cinco pontos nevrálgicos à entrada de Lisboa».

«Resta saber se será necessária qualquer portagem, no caso de a Câmara de Lisboa, os municípios da Área Metropolitana e o ministério dos Transportes resolverem entender-se e realizar uma série de investimentos estruturantes, como efectivos interfaces à entrada da capital, ligações eficientes aos centros das cidades periféricas, parques de estacionamento efectivamente dissuasores e linhas de metro de superfície entre os interfaces e o centro», referiu.

«A portagem electrónica não é a melhor solução nem temos tudo preparado», acredita o especialista em transportes José Manuel Viegas, também professor no IST e responsável pelo plano de mobilidade da cidade elaborado no âmbito da revisão do Plano Director Municipal (PDM).

Uma solução mais simples é, defendeu, a instalação de uma maior diferenciação dos preços de estacionamento em Lisboa, partindo do princípio que o espaço público «é um bem escasso».

«Onde o bem é mais escasso, o preço tem de ser mais caro», nomeadamente nos locais «com saturação completa», como a Avenida da Liberdade, o Rato ou o Chiado.

Na opinião de José Manuel Viegas, «ainda não é preciso ter portagens urbanas, porque ainda podemos actuar, tarifando o veículo quando está parado e nã quando está em estacionamento».

«Há muito trabalho a fazer antes da aplicação das portagens. Esse é o fim do processo», referiu, em declarações à Lusa, a vereadora da Mobilidade da Câmara de Lisboa, Marina Ferreira (PSD).

Para a responsável, a prioridade é regular o trânsito através do estacionamento, combatendo o parqueamento em segunda fila e a reorganizando as vias para o trânsito automóvel.

«Seria completamente incongruente criar portagens sem regular o estacionamento», sublinhou a vereadora, que adiantou que «muito em breve» a autarquia lisboeta irá apresentar um «novo regulamento de estacionamento na cidade, através de sistema de Via Verde, que terá efeitos de controlo do trânsito».

A vereadora acredita que as questões da mobilidade devem implicar «um largo consenso na cidade», além de defender que os condutores devem ser sensibilizados para não andar com o carro para todo o lado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Cambada de otários... como podem comparar londres e estocolmo a lisboa ??? nem deviam chamar cidade a esta merda... Portagens ??? axam k temos o mesmo poder de compra dingleses ??? nao chega ja o k nos roubam em impostos ???